Travessia Petrópolis - Teresópolis


Sempre amei trilhas, cachoeiras, paisagens... Amo fotografia, e por isso estava sempre em busca de lugares para "fotos incríveis". Mas, depois que saí da faculdade e mudei para Brasília, essa busca por viagens aumentou muito ❤
Com isso, comecei a me perguntar: "Como eu poderia explicar que conheço os arredores do Distrito Federal todo, diversas cachoeiras dos estados de Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Bahia... e não conheço o quintal de casa, onde sempre morei".
Assim começou o nosso planejamento para fazer a Travessia...

Umas das trilhas mais lindas do Brasil, o percurso mais comum tem duração de 3 dias, saindo da Portaria do Parque Nacional da Serra dos Órgãos - PARNASO, em Petrópolis, com pernoites no Açu e Sino, e o último dia de descida até a Portaria Teresópolis. O mapinha a seguir ilustra o percurso a ser percorrido. Caso tenha interesse em seguir a trilha, procure um tracklog [sugiro wikiloc]

No total são 27 km de caminhada, de nível difícil, e dividido da seguinte forma, de acordo com a nossa classificação (fácil / médio / pesado), entre dificuldade técnica e esforço físico necessário:

1º DIA - PETRÓPOLIS x AÇU
      extensão: 7 km
      desnível máximo: 1.100 metros
      altitude: 2.232 metros (Morro da Cruz)
      dificuldade técnica: médio
      esforço físico: pesado
      tempo médio: 6/7 horas

2º DIA - AÇU x SINO
      extensão: 8 km
      altitude: 2.263 metros (Pedra do Sino, ponto mais alto da Serra do Órgãos)
      dificuldade técnica: pesado
      esforço físico: pesado
      tempo médio: 8/12 horas

3º DIA - SINO x TERESÓPOLIS
      extensão: 12 km
      dificuldade técnica: fácil
      esforço físico: médio
      tempo médio: 4/6 horas

Esta travessia exige um bom condicionamento físico, não subestime pois não estamos exagerando. Ouvimos diversos relatos de pessoas que haviam desistido (inclusive, isso aconteceu com uma integrante do nosso grupo, Melissa). Então, é importante que haja uma preparação de condicionamento físico e psicológico para fazê-la.

Experiência própria: Eu passei por um processo de emagrecimento (perdi 18 kg) e vinha praticando exercícios físicos regularmente, então considero que eu tenha feito a travessia sem maiores dificuldades, mesmo com a mochila pesada nas costas. No entanto, a Dani, querida amiga, mesmo tendo se preparado praticando corridas regularmente, teve bastante dificuldade para vencer o trekking, sendo que passamos por várias partes do caminho ouvindo resmungos, choros, e até brigas por conta da dificuldade e vontade de desistir dela. 😑😕
A bichinha chegou até a falar que nunca mais faria aquela travessia... Não sei se já mudou de ideia, mas com certeza foi suficiente para chegarmos a conclusão que pessoas sedentárias terão muuuuita dificuldade de fazer esse trekking.

Então, coloque isso em mente: está se planejando para ir? 
1º - não seja uma "toupeira de trilha" - tenha em mente que não se pode começar a praticar trekking pelas trilhas mais difíceis;
2º - esteja com uma boa disposição física - praticar atividade física te ajudará muito a vencer os quilômetros de desnível pela frente.

Um pouco da Serra dos Órgãos...
O Parque Nacional Serra dos Órgãos (PARNASO) foi criado em 1939 e o terceiro parque mais antigos do Brasil. São 20.024 hectares protegidos nos municípios de Teresópolis, Petrópolis, Magé e Guapimirim. fonte: icmbio

O Parque abriga mais de 2.800 espécies de plantas catalogadas pela ciência, 462 espécies de aves, 105 de mamíferos, 103 de anfíbios e 83 de répteis, incluindo 130 animais ameaçados de extinção e muitas espécies endêmicas (que só ocorrem neste local) fonte: parnaso
O clima no Parque é tropical superúmido (com 80 a 90% de umidade relativa do ar), com média anual que varia de 13º a 23º C (atingindo valores de 38ºC a 5ºC negativos nas partes mais altas) e variação pluviométrica de 1.700 a 3.600mm, com concentração de chuvas no verão (dezembro a março) e período de seca no inverno (junho a agosto) fonte: parnaso

O PARNASO conta com 2 sedes, uma em Petrópolis e a outra em Teresópolis. Segundo informações do icmbio, as guaritas funcionam todos os dias das 8:00h às 17:00h, mas é permitida a entrada no parque entre 6:00h e 8:00h e entre 17:00h e 22:00h mediante compra antecipada de ingressos (pelo site parnaso).

A travessia conta com 2 estruturas de abrigos, uma no Açu e a outra no Sino. Nos abrigos, é possível a compra de Beliche e Bivaque (ambos que dispensam a utilização de barracas de camping, necessitando apenas de sacos de dormir). No entanto, por causa da alta procura por estas opções que dispensam barraca, é necessário realizar a compra com bastante antecedência. 
Além dos opcionais, os 2 abrigos contam com estruturas de cozinha e banheiros com banho quente (pago a parte), e banheiros do lado de fora liberados para o pessoal do camping utilizar. Todos os preços individualizados de cada opcional estão detalhados no site do parnaso, onde se faz a compra do ingresso. 
Ainda existe a possibilidade de aluguel de barracas, incluindo montagem e desmontagem. Essa opção fica para os trilheiros 'Nutella', haha!

Com relação à necessidade de guia, não há obrigação nenhuma quanto a sua contratação, basta apenas alguém se responsabilizar pelo grupo na entrada, e informar que conhece o caminho. No entanto, frequentemente ficamos sabendo de histórias de pessoas que se perdem na região, principalmente quando 'desce a neblina' comum por ali... Diversos trechos da trilha são de caminhada em chapadões de pedra, e a marcação do caminho é feito por totens de pedras, e não é tão difícil se perder. Mas, com um bom senso de direção, um tracklog ou GPS à mão resolvem essa questão. No nosso caso, fomos sem guia, mas tínhamos pessoas no grupo que já conheciam bem o caminho.
Nossa dica é: na dúvida, contrate um guia, pois essa trilha não é daquelas molezinha. Além disso, existem alguns trechos técnicos (elevador, mergulho e cavalinho) que um guia experiente pode ajudar bastante com dicas.

Uma dica muito preciosa: Você pode realizar a travessia no sentido Petrópolis-Teresópolis ou Teresópolis-Petrópolis. Mas, iniciando a trilha a partir de Petrópolis fará o seu visual muito mais bonito pois a caminhada será sempre de frente para as lindas montanhas da Serra dos Órgãos. Valerá a pena ❤😊

Vale a pena, se você for corajoso: Você provavelmente vai ouvir relatos dos Portais de Hércules, um local onde você pode admirar, 'de camarote', a cadeia de montanhas que deu origem ao nome do parque, Serra dos Órgãos. O local fica há cerca de 01:30h do Açu, e desvia mais ou menos 00:30h da trilha para o Sino. Chega a ser um crime ter que escolher entre o nascer do sol visto do Açu e o dos Portais de Hércules, mas, confesso que tenho uma paixão pelos Portais.
Se for possível, faça o seguinte: faça a travessia em 4 dias, assim você poderia ficar 2 noites no Açu, assiste uma nascer do sol de lá do Castelo, fique por lá e aproveite para descansar um pouco. No segundo dia, acorde na madrugada e saia do Açu às 04:00h rumo aos Portais, para o nascer do sol mais lindo da sua vida.
O trecho final da trilha, para os Portais, é só descida... Se sua mochila estiver muito pesada, sugerimos esconde-las num cantinho do mato, pois você precisará subir tudo de novo para seguir para o Sino. A trilha para o Sino é enorme e cansativa, economize seus ombros 😉

Outra dica: Chegando a final da trilha, em Teresópolis, descer até a guarita ainda é necessário percorrer uma caminhada looooonga pela estrada dentro do parque. Mas o serviço do parque disponibiliza algumas conduções de vans que levam você até a 'civilização'. Acredite, quando você chegar no final da trilha, vai querer economizar o restante da cartilagem dos joelhos que ainda lhe sobraram. Confira os horários da van antes de iniciar a travessia.

Um pouco dos nossos dias...
Nossa travessia foi um pouco diferente da convencional e teve duração de 5 dias. Como estávamos de férias, e a previsão do tempo não era tão favorável 😖, optamos (Thales, Dani e eu) por subir um dias antes do restante do grupo para tentarmos ter um pouco mais do visual. O restante do grupo subiu no outro dia, e fizeram a travessia em 4 dias com 2 pernoites do Açu.
Preparados para a travessia, com nossas 'mini-mochilas'
(1º DIA)
Nosso grupo era composto por 9 pessoas, nós [Thales, Dani e eu] subimos na quarta de manhã. No dia anterior havíamos separado tudo em partes proporcionais do peso, e a Dani [teimosa que só ela] quis dividir a minha parte e a dela irmãmente, 5 kg para cada... Avisei, avisei, avisei, mas a bichinha disse que ia aguentar sim, e que o 'justo' era dividir.
Resultado da teimosia: Com 15 minutos de trilha [repare, 15 MINUTOS 👀], a menina já estava pedindo arrego. Ahh, fiquei brava, muito BRAVA! 😡 Tivemos que parar e pegar algumas coisas da mochila dela...
Seguindo a trilha, morro acima, subida, subida, subida... As vezes a gente só olhava pra baixo e continuava andando. Algumas paradas para descansar, mas sem perder o ritmo. Subimos, o Thales na frente, Dani no ritmo mais lente sendo 'empurrada' por mim: "Vão bora, Dani, não para não" " Anda, anda, anda" 😀

dica de quem viveu a experiência: se você está pensando em fazer a travessia, esteja bem preparado fisicamente. Não vá pensando que basta fazer algumas caminhadas no mês anterior... Você vai sofrer, principalmente se for baixinha [quase do tamanho da mochila que está carregando].

Fizemos a trilha toda do 1º dia debaixo de sol, mas não foi muito ruim pois não estava tão calor. Além do mais, nesse dia foi uma das poucas vezes que tivemos visual da viagem toda 😖, então foi bom ter ido durante o dia.


Vimos até um 'quase' pôr do sol, escondido nas nuvens...

Nosso tempo total de trilha foi melhor do que eu esperava, 5 horas e meia até o Castelo do Açu.

Ao chegar no Açu, optamos por montar nossa barraca no Castelo do Açu mesmo, em local escondido do vento. Estava uma noite estrelada, maravilhosa, e parecia inacreditável que o tempo mudaria no dia seguinte... Pois é, mudou...

(2º DIA)
Com os celulares despertando às 3:30h , havíamos planejado ir aos Portais de Hércules assistir o nascer do sol. Acordamos e colocamos a cara para fora da barraca na maior animação. O que vimos? Nem 1 palmo na frente... Estava um ruço desmotivador! Cadê aquele céu estrelado? 👀
Mas nada nos desanima, fomos assim mesmo, com nossas lanterninhas, muito casaco e tracklog nas mãos... Saímos por volta de 4:30h. Parecia "programa de índio", isso é pura verdade! Mas quem ia se perdoar se o tempo abrisse? Fomos todos.
E, é o que eu costumo dizer: O esforço sempre vale por uma boa foto...




Ficamos lá pelos Portais um pouquinho, e só quando voltamos para o Açu, pois passaríamos o dia por lá. Demos uma voltinha pelo Açu, exploramos um pouco o local e ficamos na espreita, esperando o restante do pessoal [chegaram 1 da manhã, mortos de cansaço].

(3º DIA)
Mais um dia de ruço, sem visual, com alguns poucos momentos de sol ao longo do dia...
Demos uma volta, fomos no Morro da Cruz, adamos um pouco na noite nublada do Castelo, mas confesso que quando o tempo está assim, não há muito o que fazer que não seja comer e dormir 😅




Vantagem de estar num grupo legal: Sempre aparecem altas histórias engraçadas...
Dessa vez, o nosso amigo Robson não escapou da zoação. Chegou falando que tinha muita dificuldade para dormir, que precisava de remédios e tal... Mas toda vez que ele batia na barraca, 2 minutos que fossem, era uma "roncação de orquestra".
Thales não perdeu essa: "Galera, psiu, fala baixo aí que o Robson tem problemas para dormir"
e o Robson: "zzzzz! snore! rooonc! rooonc!"
Todo mundo caiu na gargalhada, claro!

(4º DIA)
Eu havia sugerido de irmos assistir o nascer do sol nos Portais de Hércules, acordar 2:30 da manhã e desmontar barraca para partir. Com relação a essa ideia, nem todo mundo se animou, mas ninguém queria perder né. Deixamos previamente combinado e eu fiquei incumbida de acordar todo mundo.
Meio desanimada de perder a viagem, acordei e coloque a cara pra fora da barraca... Quando abri o olho, vi o que parecia uma miragem... Céu estrelado! Sem acreditar, esfreguei o olho e olhei de novo... Céu estrelado! Não aguentei, comecei a gritar: "Gente, gente, céu estrelado, lindo, por favor alguém olha isso e diz que eu não estou sonhando". "Acordaaaaaaaaaa, tem estrelas gente, tem estrelas"
Passada a raiva inicial que todo mundo devia estar de mim, todo mundo começou a desmontar as barracas para ir. Novamente estávamos nós: lanterninhas, mochila nas costas, 'programa de índio', mas dessa vez com um amanhecer lindo ❤

No dia anterior havia chovido bastante, e o resultado disso foi uma descida 'rala bunda', na lama, emocionante e muuuuuuuito engraçada. A mais comentada foi o 'quase strike' da Dani, que fez o Thales deslizar, como fazem os surfistas, e incrivelmente não caiu.
Perdemos as contas de quantos tombos tomamos, e no final já tinha virado piada. Reza a lenda que a Dani tinha uma luva branca e roupas limpas... PURA LENDA.... haha! No final, ela [como todos nós], mais parecíamos ter voltado de um banho de lama no curral.

Mas, acordar 2:30h e tomar esse 'banho de lama' valeu a pena? Bom... deixo aqui nosso nascer do sol para você decidir...




A Melissa não quis descer e ficou tomando conta das nossas mochilas, na divisa com a trilha para o Sino. Ao chegarmos de volta nela, tomamos café da manhã e seguimos caminho.

Trilha sem fimmmm... sobe e desce montanha, e sem visual. De vez em quando as nuvens davam uma "brecha" e rolava uma foto.





Eis que chegamos ao nosso primeiro desafio: O temido elevador!
Incrível é olhar agora para as fotos, e perceber que elas não conseguem transmitir o 'terror' que o lugar provoca na gente.


Ainda bem que sempre existem pessoas para nos fazer rir nesses momentos... haha! Agora foi a vez da Mari... eu explico: Na subida pela escadinha de ferro, alguns degraus são bem espaçados [faz a vida das baixinhas ser bem sofrido], e toda vez que acontecia isso alguém gritava: "E agora? Agarrei, meu Deus, que eu faço". A Mariana, teve uma hora que foi tentar subir e literalmente 'deitou' na lama.  O irmão dela (Rodolfo) não exitou: "êêê... Peppa pig! Mariana não pode ver uma lama que já quer deitar, igualzinho a Peppa Pig mesmo".
Pronto, foi batizada!! Peppa Pig até o resto do passeio. Mariana fazendo a alegria nas histórias, sempre! hahahahahaha...

Depois que passa a gente ri. Mas na hora foi meio aterrorizante.
Depois disso? Mergulho. Achei o mais tranquilo de todos, e mais risadas.
Corda, 2 homens segurando, um em cada pé e tá a Dani gritando: "Vocês não estão me segurando, vocês não estão me segurando" hahahahaha! Gente, eu ria tanto que nem estava mais com medo dos obstáculos... Já tinha virado piada, e por mais que eu estivesse com um pouco de medo, a graça era bem maior.

Agora, no último que mais temido trecho, cavalinho. Observação importante: é altamente recomendado levar uma corda de uns 15 metros, para atravessar esse trecho.
Aqui, no cavalinho, que a minha graça acabou... Não pela dificuldade do trecho, mas pela puta chuva que caiu justo quando estávamos longe das mochilas, e estávamos passando pelo trecho mais crítico.


Nessa hora, a chuva ficou pesada, e repentinamente ninguém mais tinha medo, todo mundo tinha PRESSA... Passamos varados por lá pegamos a mochila e saímos correndo... Mas se molhar era inevitável 😟
Depois que percebemos que não tinha pra onde correr, paramos e deixamos molhar, já estávamos ferrados. JÁ NÃO TINHA MAIS GRAÇA. O cansaço bateu pesado, ninguém raciocinava mais nada, só queríamos chegar.
Montamos a barraca correndo, tiramos a roupa molhada e começamos a analisar o estrago do que tinha molhado... Sério, dava vontade de chorar! Nossa sorte é que os itens mais importantes (saco de dormir) estavam ensacados... Foi a sorte para dormirmos secos pelo menos.
Nesse dia não fizemos mais nada, não havia mais força, nem ânimo...

(5º DIA)
Pela primeira vez não estava animada para acordar e ver o nascer do sol [ainda bem que não acordei, pois não teve 😝]. Ao acordar fizemos um chocolate bem quentinho e começamos a colocar tudo pendurado, no sol, para tentar secar antes da descida. Tristeza era pensar em colocar aquela bota molhada...
Por sorte [apesar da frustração], o sol abriu e secou um pouco das roupas. Desmontamos tudo para descer. Volta tranquila, trilha bem fácil e serviu para passar um pouco a raiva daquela chuva #fdp.

O que achamos?
Acho que precisamos voltar uma outra vez... Esse foi um sentimento que teve consenso geral. Serviu para sentirmos a trilha, e o visual dos Portais de Hércules foi inesquecível ❤
Mas ainda preciso ver muito, e isso foi um pouco frustrante.
Levando em consideração que eu já havia subido o Açu uma outra vez e peguei 3 dias de muita chuva, raios e trovões, talvez eu seja pé frio. 😖
Prefiro pensar que na próxima vez terei maravilhosos visuais.

Até a próxima aventura 😉

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